A doutora da voz

A fonoaudióloga Silvia Pinho: "Más formações limitam,
mas isso não quer dizer que a pessoa canta mal"

Qual o segredo para se cantar bem, com qualidade e durante muito tempo. Para a fonoaudióloga Silvia Pinho, doutora em distúrbios da comunicação humana pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o segredo, além do talento, consiste em três itens: consultar um médio para que ele faça uma checagem periódica das cordas vocais; ter aulas com um professor de canto, para adquirir a técnica adequada e direcionada ao estilo musical da preferência do aluno (existe uma técnica diferente para o sertanejo, outra para o heavy metal e uma terceira para o erudito) e consultar um fonoaudiólogo, que vai dar ao cantor o domínio da musculatura que ele utiliza no processo do canto.

Silvia é consultora em comunicação humana do Sistema Meio Norte de Televisão (retransmissora da TV Bandeirantes para o Norte do País) e consultora do Instituto Stanislavsky SP (uma escola de cinema e teatro na capital paulista), da Case de Artes Operárias, da 4 Acts (uma escola de musicais), da Universidade de Canto da Unesp, além de trabalhar com diversos artistas como Daniel, Durval (grupo Asa de Águia), Marília Pera, Dudu Braga, Wanessa Camargo, Denise Sartori e Paulo Szot (vencedor do Prêmio Tony de 2009).

Silvia esteve em Maringá na última sexta e sábado, ministrando um curso sobre canto lírico e belting (técnica vocal utilizada para se produzir uma voz mais clara, com volume e que dá a possibilidade de se emitir notas extremamente altas sem danificar as cordas vocais) ao lado do maestro e contra-tenor Marconi Araújo. O evento foi promovido pelo Coral Infanto-juvenil Arquidiocesano de Maringá.

Gêneros

Silvia explicou que há uma preparação diferenciada para gêneros musicais diferentes. "Um cantor de axé, que vai ficar seis horas no trio elétrico tem que ter força e resistência para dançar e cantar. No caso da voz, ele trabalha com a musculatura respiratória e das cordas vocais e as musculaturas específicas para o timbre do ritmo", exemplifica.

Já os cantores sertanejos têm uma característica completamente diferente. Eles devem ter um suporte respiratório e um bom controle sobre a projeção vocal.

"É um controle, não exagerado, sobre a elevação da laringe. Mas os cantores sertanejos também devem ter um controle sobre o microfone, que deve ser um aparelho de qualidade. Eles devem parecer que sofrem para cantar. O sofrimento deve estar expresso na voz, mesmo que, com a técnica, eles não sofram para isso. Esse sofrimento deve vir acompanhado pela expressão, pois é importante para o estilo", observa.

Silvia diz que, normalmente, os cantores sertanejos procuram os fonoaudiólogos quando suas gargantas e vozes já apresentam problemas por causa de anos cantando com a técnica errada.

Calos

Silvia explicou que, dependendo da estrutura vocal ¿ se não tiver nenhuma má formação ¿, uma pessoa pode cantar qualquer gênero se seguir suas três dicas. E praticar com afinco, é claro.

"Algumas más formações limitam alguns estilos, mas isso não quer dizer que a pessoa canta mal. Apenas a encaminhamos para um outro estilo. Uma voz rouca pode não cantar música lírica, mas pode dar um excelente roqueiro", diz citando o exemplo de Rod Stewart.

A fonoaudióloga também falou sobre um fantasma que assombra muitos cantores: os calos. Para Silvia, o fantasma não é tão feio assim. "Um calo nas pregas vocais para um cantor lírico pode ter um impacto negativo, mas para um cantor de samba pode dar um timbre agradável. O importante é que a voz mantenha a estabilidade, diz.

S.O.S. Para Daniel

O cantor Daniel procura periodicamente a fonoaudióloga Silvia Pinho para fazer um trabalho de manutenção e resistência nas cordas vocais. Foi em um trabalho junto com Silvia, que o cantor sertanejo selecionou qual o melhor timbre para a sua voz, que é o que ele utiliza até hoje em sua carreira.

Texto:Fábio Massalli
Fonte: http://www.odiario.com/dmais/noticia/355411/a-doutora-da-voz.html

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