Gripe suína causa suspensão de micareta em Divinópolis

Simone Lima - Estado de Minas
Sábado 05 de setembro de 2009 09:13

Depois de prontos todos os preparativos para que Divinópolis recebesse 15 mil visitantes para uma das principais festas de seu calendário de eventos, a Divina Folia, uma decisão de última hora do Comitê Municipal de Enfrentamento da Influenza A colocou água no chope de quem se preparava para agitar na sexta edição da tradicional micareta do muncípio do Centro-Oeste Mineiro, a 120 quilômetros de BH.

A festa teria atrações como a banda Asa de Águia, mas os casos de gripe suína registrados na região, onde já houve três mortes, motivaram a decisão do gabinete de crise, muito criticada por ter sido divulgada a apenas um dia do início da festa. Hotéis da cidade, comerciantes e ambulantes reclamam do prejuízo. Aqueles que já compraram ingresso questionam se serão reembolsados e os organizadores do evento consideraram a notícia “um banho de água fria”.

Segundo a Gerência Regional de Saúde, Divinópolis tem um dos três casos de óbito no Centro-Oeste confirmadamente causados pela nova gripe. A vítima tinha 61 anos e morreu em 16 de agosto. E aqueles que seguiram para a cidade sem saber do cancelamento enfrentarão ainda mais dificuldade para ocupar o tempo ocioso, já que a proibição não está restrita à micareta. Até 20 de setembro, boates devem ficar fechadas, teatros não abrirão e eventos religiosos, culturais e desfiles, como o que aconteceria na segunda-feira, para comemoração do 7 de Setembro, também devem ser suspensos.

Nem mesmo as seis salas de cinema da cidade, uma das opções para o público jovem nas tardes de domingo, poderão funcionar. Para aproveitar o fim de semana e o feriado, restará recorrer a passeios em praças, sorveterias e bares da cidade, de preferência em ambientes abertos e arejados.

A secretária municipal de Saúde, Rosenilce Cherie Mourão, justifica o cancelamento de última hora da Divina Folia devido a um aumento de 100% nas notificações de casos de síndrome respiratória aguda grave. A cidade registra 215 casos suspeitos da nova gripe, dois confirmados e dois descartados. Além disso, ela cita o exemplo do município de Cláudio, a 125 quilômetros de BH, que registrou um aumento de 65% no número de casos suspeitos depois de um evento com grande aglomeração de pessoas.

“Até a semana passada, a situação estava mais controlada, por isso acho que o evento poderia ser realizado sem maiores problemas. Mas percebemos que houve um aumento grande nas notificações de síndrome respiratória aguda grave e, por isso, houve a necessidade de cancelar temporariamente qualquer tipo de festa com grande aglomeração”, afirma Rosenilce. Para o chefe do Pronto-Socorro Regional de Divinópolis, Maurício Couto, deixar que a Divina Folia fosse realizada seria uma imprudência. “Não há vaga em nenhum centro de tratamento intensivo da região, nem mesmo nos hospitais pagos. O momento é de precaução”, diz.

Decepção

Com a decisão de última hora, muita gente chegou à cidade sem saber do adiamento. Foi o caso de Pedro Gontijo, de 18 anos, que saiu de BH para curtir a Divina Folia. Ainda assim, ele decidiu não perder a viagem e afirma que vai aproveitar a noite de Divinópolis, mesmo que não seja no Parque de Exposições. “Meus amigos já estavam na cidade. Liguei para eles e resolvemos conhecer melhor Divinópolis. O resto, a gente resolve depois”, afirma.

Menos conformadas estão as pessoas que pretendiam lucrar com a festa. Todos os anos, a ambulante Fátima Temoteo, de 46 anos, sai de Betim para montar uma barraca de bebidas em frente ao Parque de Exposições de Divinópolis nos dias de evento. “Podiam ter avisado antes. Comprei as bebidas, frutas. Perdi uns R$ 2 mil por causa dessa desorganização. É quase um mês de trabalho”, queixa-se. Leonilde José dos Santos, de 33, saiu de Sete Lagoas às 4h de ontem, sem saber que a festa havia sido cancelada. Ele pretendia vender cachorro-quente na porta do Parque de Exposições. “Pelos meus cálculos, perdi quase R$ 3 mil”, diz.

O gerente do Hotel Fátima, Laender Rabelo Araújo, conta que o estabelecimento já estava com 80% dos quartos reservados. Os outros 20% haviam sido separados para hospedes de última hora. “Todos os anos ficamos lotados. Todos os hotéis ficam. Agora ficou difícil. Vamos ter que reembolsar aqueles que já haviam depositado a diária. Espero que, mesmo em outra data, a Divina Folia traga os visitantes de volta”, afirma.

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