Circuito do desejo

Com seu belo visual, que inclui o Farol, o Barra-Ondina tornou-se o espaço mais cobiçado do Carnaval

Primeiro foi o Camaleão. Nesse Carnaval, quando comemorou 30 anos, o bloco do Chiclete com Banana (que sempre sai três dias no circuito Osmar Macedo - Campo Grande-Avenida) desceu, domingo, para o circuito Dodô (Barra-Ondina). E vai repetir a dose em 2009. O sucesso da iniciativa dos camaleônicos despertou o interesse de outros blocos em seguirem o mesmo caminho, trocando um dia o Campo Grande pela Barra.

Dois já confirmaram: o Beijo e o Requebra. O Coruja, de Ivete Sangalo, decide na próxima semana. E a cantora Cláudia Leitte, que puxava o Papa, resolveu descer de vez, agora no comando do estreante Bloco da Barra. Será que o Campo Grande está perdendo o brilho? Para Fernando Boulhosa, presidente da Associação de Blocos de Trios do Carnaval de Salvador (ABTCS), toda essa movimentação não deve ser motivo de alarme.

“ Na verdade não estão se criando novas vagas no Circuito Barra-Ondina. O Beijo, por exemplo, está descendo porque seus sócios têm uma vaga lá. O mesmo acontece com o Coruja, de Ivete. Agora, as vagas têm limite e acho que o Beijo será o último a descer porque, a partir daí, a Barra vai ficar inviável”. Mas esse “esvaziamento” do Campo Grande tem outras causas maiores, como Boulhosa faz questão de denunciar.

“Tudo isso acontece porque a prefeitura não se posiciona para resolver os gargalos que entravam o desfile no Campo Grande-Avenida e que estão causando muitos problemas às entidades profissionais. A Mudança do Garcia, por exemplo, passa duas horas desfilando e, na cola dela, vêm entidades inexpressivas, alguns minitrios, muitos financiados pela própria prefeitura, que entram no circuito e causam aquele tumulto. Por isso, está todo mundo querendo descer na segunda-feira. Domingo tem o problema com o Filhos de Gandhy, que arrasta mais de dez mil homens. Tudo isso termina atrapalhando o trabalho dos blocos e da própria imprensa, que dispõe de pouco tempo para poder mostrar essa festa para todo o mundo. E, se nenhuma providência for tomada, o Carnaval do Campo Grande vai terminar esvaziando. O problema é muito sério.

Um dos primeiros a apostar no circuito da Barra, ao lado da cantora Daniela Mercury, foi o cantor Durval Lelys, que desfila no CocoBambu e no Me Abraça. Uma das vozes mais atuantes em defesa da profissionalização do Carnaval de Salvador, ele também concorda que precisa haver uma disciplina.

“Crescimento sempre foi sinônimo de sucesso. E a Barra é sucesso. Agora, tem que ter planejamento. As coisas não podem ser feitas de maneira aleatória. Se todo mundo toca na Barra de quinta a sábado isso é tolerável, porque a Barra está livre do “overbook” e muita gente ainda está chegando a Salvador. Já no domingo, segunda e terça, se os blocos que descerem ocuparem vagas que já existem, tudo bem. Agora, se todo mundo quiser descer também no domingo, segunda e terça, aí a Barra vai estrebuchar. Vai ficar tudo apertado. Como diz meu amigo, o arquiteto Davi Bastos, conforto é espaço. E, se não tiver mais espaço, eu sou o primeiro a cair fora”.

O também carnavalesco Geraldo Albuquerque, Tinho, sócio do Camaleão, um dos diretores da Central do Carnaval (empresa que comercializa a venda de abadás da maioria dos blocos), vê algo positivo com todo esse movimento. “A ação foi boa para todo mundo. De quinta a sábado, a barra fica superlotada. De domingo a terça acontece o inverso com o Campo Grande. Por isso, acredito que essas variações terminam fazendo um equilíbrio entre os dois circuitos, pondera.

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Os Circuitos

O Carnaval de Salvador é dividido em três circuitos: Osmar, Dodô e Batatinha.

Osmar Macedo (Campo Grande-Avenida).

É considerado o “circuito nobre” por ser o mais tradicional. Apesar de já ter movimento na quinta, com os blocos de samba, na sexta e no sábado, seu ponto alto é no domingo, segunda e terça quando desfilam os blocos mais famosos como Internacionais/Inter (Claudia Leitte, Negra Cor e Voadois); Coruja (Ivete Sangalo); Camaleão(Chiclete com Banana); Eva (Eva); Papa (Tomate); Cheiro (Cheiro de Amor), Ara Ketu (Ara Ketu) e Ilê Aiyê.

Dodô (Barra-Ondina)

É o mais movimentado. Ele tem duas etapas. De quinta a sábado, saem os chamados alternativos, como Nana Banana (Chiclete com Banana); Cerveja & Cia (Ivete Sangalo); Nu Outro Eva (Eva, Tomate, Tatau); Alô Inter (Negra Cor, Psirico e Voadois); Coco Bambu (Asa de Águia); Eu Vou (Cláudia Leitte, Jammil e Negra Cor); Timbalada (Timbalada). E domingo, segunda e terça tem Crocodilo (Daniela Mercury) Me Abraça (Asa de Águia); Balada (Jammil); Expresso 2222 (Gilberto Gil) Aviões Elétrico (Aviões do Forró); Bloco da Barra (Claudia Leitte), além do Camarote Andante de Brown.

Batatinha (Centro Histórico/Pelourinho).

Principal reduto dos blocos afros como o Olodum e Ilê Aiyê, o Centro histórico é considerado um “carnaval mais família”. Com muitas bandas e manifestações folclóricas nas ruas do Pelô e no terreiro.

Tempo de desfile

O Circuito Osmar Macedo tem aproximadamente 7km saindo do Campo Grande passando pela Piedade, Avenida Sete, Carlos Gomes, terminando no inicio do Corredor da Vitória. Cada bloco faz o circuito entre seis a oito horas. O Circuito Dodô tem 3,5km e começa no Porto da Barra indo até a Av. Ademar de Barros (Ondina). Cada bloco faz o circuito entre quatro e cinco horas.

Vitrines

O Circuito Dodô tem outro grande chamariz além da praia. São os camarotes. A começar pelo da cantora Daniela Mercury (o pioneiro) e o Expresso 2222, de Gilberto Gil. Ambos só para convidados. E os que cobram ingresso, como o Salvador, Planeta Othon, Skol, Nana, Oceania, Ondina.

Fonte: Osmar Martins - Correio da Bahia

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